sábado, 17 de maio de 2008

conto

Três crianças e uma mãe comem sanduíches ao meu lado. Ela chega, me beija e volta para sua loja de imóveis, recebendo móveis. Um homem de vermelho comenta a camisa preto e branco botafogo e a menina do meio diz que é vasco e que seu irmão pequenino é flamengo. Estamos na barra e a barra no hospital está pesada. Vim de lá. Cuidava de pacientes e agora estou esperando para cuidar de outro. Germana está bem, sua mãe ruth já está desentubada. Pago o café que tomei, atravesso a praça e sento no banco largo, de madeira, onde conversamos em yoga. Pierre Louis corta cabelos em frente, faz unhas, massageia o ego dessas mulheres que não param de querer ser sempre mais belas. E conseguem. Penso na pintura da andréa, nos seus olhos que falam, reforçados pelo próprio falar. Marie-laure, qual é o seu nome de escritora? Pergunto. Quero ler o que você escreve, falo para o vento e, não consigo resposta. Ela está ocupada escrevendo seu último livro. Não é último, último. É último porque é o último que ela escreve. Depois vem mais. Quero vê-la, conhecê-la, saber dela. Daniel falou tão bem que deu vontade: vou te arranjar uma namorada. Você é feliz mas está muito só. Vai gostar de conversar com marie-laure. Ela é francesa, como você e escritora. Mas eu não sou francês, repico. Apenas vou voltar para paris que é o meu lugar, replico. Você entendeu o que eu disse, diz ele. Além de tudo ela é bela e dois franceses que não bebem vinho é raro. Só podem se dar bem. E ela? Pergunto para mim mesmo. Levanto os olhos para pensar e Pierre Louis faz sobrancelhas. Olho em volta e as crianças agora tomam suco de laranja, uma delas, no colo do motorista que veio render a mãe, enquanto ela leva a camisa do botafogo para fazer pipi. A mãe volta sem a camisa e todos vão embora nas minhas costas. Será que botofogo? O tempo fecha, o sol desaparece e eu que troquei o pé de pitanga por cerejeiras. Ela, de longe me chama para lá e eu a chamo para cá. São cinco e meia e esse prá-lá-e-prá-cá ainda tem trinta minutos para terminar. Isso se tudo se cumprir. Cedo e vou.